Morte da vida
Nasci com o mundo caído sobre mim
Talvez, tenha sido este o motivo
De meu precoce choro
Fiz-me espanto, medo, angústia
Dessa gente toda tão cheia de nada
E esse nada se faz de tantas coisas
Coisas repletas do valor supremo
Da opulência materialista que consome
Essa Terra que já foi mais Terra
O verde que as mãos, um dia, aspiraram
A pintar, fortemente, os quadros
Revelando a natureza farta
E a abundância da vida
A vida que é água, mata a sede e elementar
Já não mais preservada, virou piada
Diante da fome dos indivíduos
A fome já não é mais de comida
E, sim, de papel
Papel que circula por tanta imundice
Por exploração e por deterioração
Do ser humano pós-moderno
Que detinha expectativas de evolução
Mas, infiltrou-se na regressão
Almas com conceitos deturpados e desumanos
A importância dos inanimados
Já os pensantes de lado
Mais vale o direito à vida roubado
Em troca do poder da minoria
Que o homem só esqueleto
Implorando migalhas
É o atual cenário, supostamente, avançado
Objeto de estudo para os que dizem: "não"
Os corpos finitos em uma infinidade
De miséria e de solidão
Nem mesmo a felicidade é grátis desde então
Só reza e diz ao filho
Que revolução é coisa
De gente vagabunda
Religião alimentada pela submissão, indiferença
E desafeto à margem da ingratidão
Ó, céus, de carne e osso quero ser desfeita
Já não cabe mais a mim
Engolir tanta hipocrisia e dor
Presa e calada nesse cubículo das contradições
Raça, ainda, é resposta para tanta violência
Nessa vasta imensidão que és tu, vida
É preciso pedir para nascer
Para, enfim, morrer em paz