Morte da vida

Nasci com o mundo caído sobre mim

Talvez, tenha sido este o motivo

De meu precoce choro

Fiz-me espanto, medo, angústia

Dessa gente toda tão cheia de nada

E esse nada se faz de tantas coisas

Coisas repletas do valor supremo

Da opulência materialista que consome

Essa Terra que já foi mais Terra

O verde que as mãos, um dia, aspiraram

A pintar, fortemente, os quadros

Revelando a natureza farta

E a abundância da vida

A vida que é água, mata a sede e elementar

Já não mais preservada, virou piada

Diante da fome dos indivíduos

A fome já não é mais de comida

E, sim, de papel

Papel que circula por tanta imundice

Por exploração e por deterioração

Do ser humano pós-moderno

Que detinha expectativas de evolução

Mas, infiltrou-se na regressão

Almas com conceitos deturpados e desumanos

A importância dos inanimados

Já os pensantes de lado

Mais vale o direito à vida roubado

Em troca do poder da minoria

Que o homem só esqueleto

Implorando migalhas

É o atual cenário, supostamente, avançado

Objeto de estudo para os que dizem: "não"

Os corpos finitos em uma infinidade

De miséria e de solidão

Nem mesmo a felicidade é grátis desde então

Só reza e diz ao filho

Que revolução é coisa

De gente vagabunda

Religião alimentada pela submissão, indiferença

E desafeto à margem da ingratidão

Ó, céus, de carne e osso quero ser desfeita

Já não cabe mais a mim

Engolir tanta hipocrisia e dor

Presa e calada nesse cubículo das contradições

Raça, ainda, é resposta para tanta violência

Nessa vasta imensidão que és tu, vida

É preciso pedir para nascer

Para, enfim, morrer em paz

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 03/03/2017
Reeditado em 18/05/2019
Código do texto: T5928971
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