AUTO RETRATO

Quem é essa feição, sem os feitos da compostura e sem a glória da formosura?

Quem é esse vulto, desenho tosco do imaginário, tido por nada lírico e em tudo bruto?

Quem é essa voz inaudível, melodia dos surdos, tom desprezível que ninguém atura?

Quem é essa sombra, que o sol divorciou, cujo largo sonho de ser feliz se fez curto?

Quem é o olhar perdido em meio à multidão que não olha tal olhar?

Quem é o julgado coração, bastardo fruto do desengano com a desilusão?

Quem é esse esboço mal escrito de um texto rejeitado pelas linhas do amar?

Quem é esse Ícaro cujo vôo persistente nunca passa de seu chão?

Quem é o ninguém que povoa o mundo habitado pelas tantas ausências?

Quem é esse que governa o reino esquecido num status de plebeu?

Quem é esse poeta a quem negaste o amor que nem tens em aparências?

Quem é esse que me apresento e me fujo e que me digo ser-me eu?

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 04/08/2007
Reeditado em 16/10/2007
Código do texto: T592787
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