Efeito Colateral
Sou um sobrevivente da sua ausência
Resquício de um romance queimado
Curado de um sentimento sem prudência
Tão filósofo quanto qualquer outro renegado
Suas fotos já não estão na minha estante
Suas cartas sumiram da minha caixa de sapatos
Comida congelada agora é algo relevante
Ao ponto de me fazer esquecer o sabor dos teus pratos
Posso assistir nossos filmes sem surtar
Posso deixar meu emprego e sair
Ouvindo nossas músicas sem mais chorar
Ver meu mundo mudar sem necessidade de fugir
Abandonei todos os seus vestígios
Em um tratamento de choque experimental
Não lutei pela existência de litígios
Mas te deixar ir, deslocou-me do estado normal
Minha visão cinza, já não enxerga mais cores
Tenho um incomodo zumbido no ouvido
Um paladar insosso e sem sabores
Um tato formigante e adormecido
Perfumes também já não pairam mais sobre o ar
Sair de casa também não é mais tão animador
A TV também não tem muito o que mostrar
Aliás, lugar nenhum mostra onde redesenhar o amor
Anos que voam como dias
Sete, pareceria menos se pudesse mentir
Mas não há necessidade de tais manias
Já que ainda resta tanto a se descobrir
Sigo agora, mais forte e maduro
Sem qualquer intenção de recobrar o que já me foi especial
Sentimentos emprestados me salvam de ser alguém frio e duro
Mas não me salvam de viver, esse efeito colateral...