CASADO,CASA

uma casa, ele só queria

construir uma casa

mas nada, nada dava certo

ele não era esperto, habilidoso

o suficiente. ele não era gente.

não gente como a gente

talvez, um pouco demente

ou apenas, penas crente

de que não iria conseguir

e ele observou ela partir.

sem nem se despedir,

pensou em apenas ir.

e ele chorou, culpou à si.

e ele rezou, pra vir sorrir

ele rezou, pra divetir-

se nem que fosse um pouco.

ele rezou pra não ser ser tosco

não o suficiente

pra se deixar sofrer

mas, cada vez que ele ficava sozinho em casa

ele sofria pela partida dela

e cada lágrima, por mais singela

intensificava sua tristeza

pois, veja, ele não tinha casa

pra ficar

casa sim, mas não um lar.

e cada vez que ia chorar

pensava em se matar

pois chorava com desgosto

que levava em seu peito

a respeito de que

ele era capaz

mas não, jamais

(não depois dela partir)

ele poderia vir à construir

uma casa pra fingir

ser sua

e ele chorou na casa que morou

pensando que não era seu problema

que não sofria, pois rezar não o deixava

sofrer

até que, sem nem perceber

alguém (seja quem) veio lhe dizer

“você deve crescer…”

a princípio, era difícil acreditar

que alguém poderia, ou queria

lhe ajudar.

mas com o tempo veio a amar

aquelas palavras.

tão singelas, tão não bravas

diferentes da que ele ouvia antes

cobrando, não o deixando grande

e, assim como se falou,

ele cresceu

e cresceu, até não caber mais

na casa que morava

então, sem pensar em mais nada

ele construiu um novo lar.

sem parar pra divagar,

sem dizer que não vai dar,

sem querer nem descansar.

apenas por necessidade

de caber

em algum recanto

e, não tanto tempo depois

logo após

terminar a nova casa.

no meio dos escombros da antiga

alguém o chamou.

e falou

que devia parar com esse show.

que devia voltar ao que restou

da casa antiga,

que devia desistir da vida.

mas não,

não novamente

então ele seguiu em frente.

e abriu a porta da nova casa

e, para sua surpresa

mais nada, além de alguém

muito especial

o aguardava ali.

alguém que partiu

há muito tempo.

alguém que surgiu

como um vento

e como se sempre

estivesse ali.

e, ao sorrir, ele compreendeu

que nada disso se perdeu

que ela não desvaneceu.

ela sempre esteve ali,

esperando pra surgir.

apenas

esperando ele fluir

das cinzas da depressão,

apenas esperando-o resistir

das garras, desilusão

e das amarras daquele chão

daquele chão que ele não construiu

daquele que ele desistiu

de estar preso

daquele que o trazia

más ocorências.

do chão da dependência.

e ele sorriu, com veemência

e não pensou na sua demência

nem na sua tendência

de não fazer algo.

não mais.

apenas pensou que era capaz

e que sempre iria ser capaz

e que nunca, nunca mais

iria a deixar pra trás

nunca a veria partir

nunca, pois existir

sem ela

era a forma mais singela

de dizer adeus

à vida.

e disse:

“nunca, querida,

nunca mais fujas de mim”.

e, assim

em apenas um instante

ela

se tornou parte dele

e ele se tornou parte dela.

e foi assim, sendo apenas um

que nunca mais ele sofreu,

não daquele jeito,

e nunca mais ele perdeu

o respeito

por si próprio

e nunca mais,

nunca mais o desastre aconteceu

o desastre,

que foi

a sua confiança

que se perdeu.