Cinderela Contemporânea
Era já noite velha
E ela -Cinderela-
Decidiu sair p'ra dançar
E apenas com um sorriso
Fez o que foi preciso
Para eu a acompanhar,
Chegando ao restaurante
A multidão nos olhou relutante
-Com olhos negros de inveja.
E quando sorriram para nós
-Eu num silêncio feroz -
Caminhei como quem festeja!
(Caminhei em marcha lenta
Como quem não aguenta
O peso do próprio ego
E quando ela despiu as peles
Os olhares porcos e reles
Tornaram o meu ciúme cego)
Escusado será dizer
Que a noite daquela mulher
Foi loucura na alfombra
Só eu fiquei a olhar
Esta Cinderela dançar,
Só eu! E minha sombra.
E todos os invejosos
Foram príncipes pomposos
Cada um num pedestal
Cada um numa esperança
Que a Cinderela numa dança
Lhes oferecesse o seu Cristal.