Sobre o vazio e o voar
Seu vazio há tempos era enorme
Mais parecia casca ambulando por aí
E assim, com tanto espaço, a culpa a ocupou por inteiro
Começou bem desse jeito:
-- A culpa é sua se ando estranho.
-- A culpa é sua se me afasto.
-- A culpa é sua se eu mentir.
-- A culpa é sua se eu a trair.
-- A culpa é sua eu te deixar.
Ela foi acreditando, e além de vazia, foi murchando, murchando, até virar pó.
Mas veio um vento verde e fresco e a levou dali para outras paragens. E voou, voou bem alto e distante.
Pela primeira vez em muito tempo, via. E vendo, começou a se perceber tamanha e forte. Todo o resto se apequenou. Ela? Ela cresceu.
Tendo o vento como companheiro, não houve quem a parasse. Ganhou asas invisíveis de presente e, de brinde, o mundo.