Sobre o vazio e o voar

Seu vazio há tempos era enorme

Mais parecia casca ambulando por aí

E assim, com tanto espaço, a culpa a ocupou por inteiro

Começou bem desse jeito:

-- A culpa é sua se ando estranho.

-- A culpa é sua se me afasto.

-- A culpa é sua se eu mentir.

-- A culpa é sua se eu a trair.

-- A culpa é sua eu te deixar.

Ela foi acreditando, e além de vazia, foi murchando, murchando, até virar pó.

Mas veio um vento verde e fresco e a levou dali para outras paragens. E voou, voou bem alto e distante.

Pela primeira vez em muito tempo, via. E vendo, começou a se perceber tamanha e forte. Todo o resto se apequenou. Ela? Ela cresceu.

Tendo o vento como companheiro, não houve quem a parasse. Ganhou asas invisíveis de presente e, de brinde, o mundo.

Luciana Gomes
Enviado por Luciana Gomes em 21/10/2016
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