ATA-ME FORTE

ATA-ME FORTE

Onde está a poesia

na intenção de quem escreve

ou no gesto de quem sobrevive

na agonia, no riso

no muro ou na flor

No chão, as flores do jasmineiro apodrecem

e no calor da tarde exalam seu perfume

e daí? isso não responde a pergunta

"onde está a poesia"

o muro está velho

tem rachaduras e desbota

o que isso diz sobre a vida

ou a vida do homem

ou da palavra viva?

Onde está a poesia?

Breve tudo é esquecido

poema, poeta e muro num segundo

como a flor amarela daquela árvore

no meio do jardim e seu perfume

apesar disso e tudo a vida anda zonza

de tão informada e quase mais nada conta.

A pergunta gira, gira...

Gira sobre o muro caiado que resiste

rimando vizinhos solitários desgraçados

Porque escrever poesia?

Onde está a poesia?

Eu não respondo.

"Eu" que não me encontro

e nunca acerto o dom

não espero admissão

e continuo teimando

fiel à mim que nem sabe quem seja

aceitando que é vida mesmo

este gerúndio que não acaba,

respondo pedindo no meu gesto

de figueira estéril, ata-me, forte!

Pode ser que eu desista

e nunca mais bata em outra porta

se não tenho mais vontade de entrar.

Baltazar

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 01/10/2016
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