ATA-ME FORTE
ATA-ME FORTE
Onde está a poesia
na intenção de quem escreve
ou no gesto de quem sobrevive
na agonia, no riso
no muro ou na flor
No chão, as flores do jasmineiro apodrecem
e no calor da tarde exalam seu perfume
e daí? isso não responde a pergunta
"onde está a poesia"
o muro está velho
tem rachaduras e desbota
o que isso diz sobre a vida
ou a vida do homem
ou da palavra viva?
Onde está a poesia?
Breve tudo é esquecido
poema, poeta e muro num segundo
como a flor amarela daquela árvore
no meio do jardim e seu perfume
apesar disso e tudo a vida anda zonza
de tão informada e quase mais nada conta.
A pergunta gira, gira...
Gira sobre o muro caiado que resiste
rimando vizinhos solitários desgraçados
Porque escrever poesia?
Onde está a poesia?
Eu não respondo.
"Eu" que não me encontro
e nunca acerto o dom
não espero admissão
e continuo teimando
fiel à mim que nem sabe quem seja
aceitando que é vida mesmo
este gerúndio que não acaba,
respondo pedindo no meu gesto
de figueira estéril, ata-me, forte!
Pode ser que eu desista
e nunca mais bata em outra porta
se não tenho mais vontade de entrar.
Baltazar