Freud e os Gatos
Meu pai não gostava de gatos
Diz a lenda que uma vez um gato
Comeu dele estimado canário
Lembranças rascunho diário
que a mente quase não guardava
Olhava o gato, confortável, esticado
E aquela preguiça o incomodava.
A falsa amiga que o gato vigiava
E a rotina que piora os fatos
Meu pai não gostava de gatos
E a traição que se fazia presente
Num lar que apodrecia doente
O felino via uma rata diferente
Que ao partir, propositalmente,
Esquecia pulseira, brinco, sapatos
Felinos são fiéis aos parceiros
E ele; Perfumes maus-cheiros
Cachimbo, bebidas e flatos
E minha mãe tola e inocente
Não entendia como pegava chatos
Meu pai não gostava de gatos
Quem o surpreendia nas madrugadas
Portas silenciosamente fechadas
Diante de brilhantes olhos felinos
Que vislumbram cativeiros e assassinos
Desvencilham provas de boatos
Incomodado, acordando aos poucos
Encara os olhos e o focinho pacato
De pé em seu peito, ronronar rouco
Que pelas noites ouvia os desacatos
Meu pai não gostava de gatos
Se o cão é o amigo do homem
Da mulher o amigo é o gato
Caçador de perícia tamanha
Lambida áspera e estranha
Carinho que fura e arranha
Bast de caminhar imponente
Que mira o traidor reticente
Como quem sabe seus atos ingratos
Não se vende por comida ou tratos
Se arrepia com os de voz macia
Criados invasivos e insensatos
Meu pai não gostava de gatos
Cabeça erguida foi-se embora
Saiu pela porta afora
Deixou o rato e a rata
Com seus odores baratos
Mãe felina rasga o destino
Apesar de toda a tristeza
Se reergue realeza
Firme altiva fortaleza
Nada contra a correnteza
E hoje vive a tratos finos
Mereceu pois fez-se forte
Não quis crer em sua má sorte
Entregou falsos tesouros
A falsos numismatas
Enxotou falsos amigos
Como a ratos e baratas
Com saúde vive a idade
E nós, filhos e netos
Lhe somos muito gratos
Ah meu pai!
Meu pai não gostava de gatos