ENTRE O SOL E UM ECLIPSE
I
Todos os dias me vejo sombrio,
Ao relento sequer busco o escuro.
Encontro fugaz, no anteparo, o brio
Formado das dúvidas; inseguro.
Não me é novidade vir a perceber
Que sou o vale em que jazes apagada,
Nem me é escusado conceber-te,
Nua e desfigurada - a morte idealizada.
Eu confesso que pequei ao fugir
E à responsabilidade de entender.
Não por que esteja o poeta a mentir,
Mas por não fazer-me, a ti, pertencer.
Não tive coragem, nem firme punho
Deixei o tempo passar contra mim
Desde o fatídico dia, caí do sonho
Antes velho que só; nós três e o fim.
Eu já não tenho fé no meu falho projeto.
Minhas auroras, hoje, são noite deserta
Espinhos d'um fosco passado indigesto
Que n'outro fingir-se esquecido; desperta.
Encurralado, de meu descanso invernal
Faço dos meus dias uma fome secreta.
Ainda que vil, não tomaria atitude final
À espera que acordasse a alma quieta.
II
[…]
Hernâni Arriscado - Entre o Sol e um Eclipse.
16/05/2016