Discurso para a tela de um computador num dia estressante de setembro.
Manhã quente de setembro...
desilusão com o poder legitimamente (?) instituído.
Eu e o computador... o computador e eu...
Eu e pilhas enormes de papéis... o peso sufocante das burocracias!
Conflito de classes, jogo de interesses, ânsia de poder...
meu poema seco!
Uma reação? Eu, como tantos, não ousaria:
devo ser bom!
sei que não tem saída este fétido e estreito beco
trata-se, tão somente, de seguir sobrevivendo
não há muito o que fazer, já nos disseram que nossos hábitos são
vício
crime
pecado
subversão
Nosso direito consiste em obedecermos cegamente
as regras definidas sem nossa participação.
O relógio pendurado no fim do corredor marca 13:27
chego na janela...calor derretendo o calçamento.
Nem o voo desengonçado de uma garça me distrai
a beleza deste sublime momento
empresta tão somente a cândida cor à frieza de meus versos...
Sei que esse velho círculo vicioso continuará
Tempos adversos.
E entre manhãs quentes e frias de tantos setembros
Seguiremos...À margem de nossas próprias possibilidades
preso neste emaranhado de meias verdades
refém do sistema que nós mesmos elegemos!