MÁSCARA LOUCA
“Ai Poesia, ai poetas!”
Desdenham da Poesia,
Quiçá também da Vida,
Chamando-lhe fantasia
Ficando de alma perdida.
Talvez tenham certa razão
Tais malogrados profetas
Que não sentem vocação
Pra serem também poetas.
Dizem que há poesia a mais,
Que até causa enjoação,
Fazem lembrar os pardais
A bicar migalhas do chão.
Dizem que é metediça
E com pouca qualidade
Mas, por estranha preguiça,
Negam-lhe a formalidade.
Dizem que é pasmaceira
E que vai de mal a pior
Mas não encontram maneira
De fazer mais e melhor.
Dizem que é antiquada
E não interessa a ninguém
Mas por estranha piada
Espreitam o que à rede vem.
Dizem que ela é pieguice
E também perda de tempo
Não passam de parolice,
Palavras soltas ao vento.
Dizem que é presunção
E não traz nada de novo
Tais vendedores de ficção
Não têm nem para um sorvo.
Ai ó Poesia, ai ó poetas,
Neste horror de linhas tortas
O destino destes profetas
É ficarem fora de portas.
A Poesia não veio ao mundo
Como pomba em revoada
Mas sim, em sentido profundo,
Para ser fogo e ser espada.
Não anda de alma perdida
Muito menos de voz rouca
Quem assim fala da vida
Já usa de máscara louca…
Não há poeta que se preze
Que deixe passar em claro
Aquele que a Poesia despreze
Negando-lhe um Bem tão raro
Nem há machado que corte
A raiz ao sentimento
Com a Poesia é-se mais forte
E tem-se mais encantamento.
Deixem a Poesia viver
Em gostosa convivência
E se não der para entender
Que a lesmice vire ciência!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA