Só um poço

Certo dia amei um poço

De tanto amá-lo enlouqueci

Jogaram-me pedras

por entregar-me a um poço sem fim.

Sua profundidade era tanta, que poderia nele caber um incomensurável amor por mim

Mas, na medida que era fundo

Também era oco, reprodutor de ecos,

ecos de qualquer um que passasse por ali.

Tal poço era por ventura louco

De tanto que afeiçoou-se por si próprio

Tornou-se vazio

Um mero instrumento acústico de todos

Tentei com tolo esforço nele fazer ecoar

a voz do meu coração, o que fora inútil

Pois o leviano poço

menosprezou-me, aviltou-me, banindo-me como uma praga

preferiu reverberar em si a voz que o chamou a acovardar

Poço insano, que quase destruiu-me

poço nojento, insalubre

poço estéril

infame poço...que nele ecoe algo bom um dia, talvez...

Mamamuchima
Enviado por Mamamuchima em 02/07/2016
Reeditado em 02/07/2016
Código do texto: T5685738
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