Só um poço
Certo dia amei um poço
De tanto amá-lo enlouqueci
Jogaram-me pedras
por entregar-me a um poço sem fim.
Sua profundidade era tanta, que poderia nele caber um incomensurável amor por mim
Mas, na medida que era fundo
Também era oco, reprodutor de ecos,
ecos de qualquer um que passasse por ali.
Tal poço era por ventura louco
De tanto que afeiçoou-se por si próprio
Tornou-se vazio
Um mero instrumento acústico de todos
Tentei com tolo esforço nele fazer ecoar
a voz do meu coração, o que fora inútil
Pois o leviano poço
menosprezou-me, aviltou-me, banindo-me como uma praga
preferiu reverberar em si a voz que o chamou a acovardar
Poço insano, que quase destruiu-me
poço nojento, insalubre
poço estéril
infame poço...que nele ecoe algo bom um dia, talvez...