PEREGRINO SOLITÁRIO
Passos constantes, roupas surradas, sol escaldante moldando em silhueta negra um rosto sofrido de um peregrino. Pés calejados em sandálias gastas por fadigadas caminhadas e por não saber ao certo onde chegar. Só sabe que vai chegar. Olhar firme e sereno transparece com uma assombrosa convicção a certeza de um destino final, e vai deixando para trás, com dosagem de frieza, sentimento que tentam o abater. As feridas que sagram não o fazem parar. Ao reclinar a cabeça em céu aberto e no silêncio da noite, tem por certo a tortura da solidão; a frieza do vento iguala a do seu coração endurecido. A vida o obrigou a ser assim, colecionador de desilusões. Semblante endurecido, sorriso cerrado, lágrimas remota, nada...nada o fazem parar. nem mesmo o arco iris, o azul do céu ou o canto dos pássaros o sensibiliza. Sua vida migratória e solitária o fez assim. Gotas de suor que escorrem no seu rosto, refletem um brilho que não é seu, e sim de um sol que o molesta dia a dia. É de admirar a firmeza e a constância de um homem que foge, foge de que?....foge das decepções, das hipocrisias, das falsidades, das acusações e desafetos que engessaram seu coração a ponto de só querer o tempo como seu aliado. E assim vai desaparecendo aos pouco nos crepúsculo das tardes a imagem de um homem com um rosto suado, os pés calejados, corpo cansado e um olhar duro e expressivo que transparece o coração de um PEREGRINO SOLITÁRIO.