Amei-Te um Dia…
Amei-Te um Dia…
Amei-te, desesperadamente,
sôfrego de te sentir meu ser.
Amei-te, mulher, no esplendor
total da tua maturidade.
Amei-te, menina, docemente,
abri-te como livro a reler.
Bebi cada estrofe com frescor
de água refrescante da vontade.
Amei-te sempre d' alma exposta
aos perigos da perda sem futuro,
em avidez seca e esgotante,
Amei-te, louco, por compaixão.
Amei no desprezo, sem resposta -
silêncio atroz - esbarrei no muro
de masmorras frias, sufocantes
da indiferença, sem compaixão.
Amei-te mesmo nesse negar,
de ti para mim, acusador
de erros cometidos, de traição,
mentiras fúteis, promessas vãs,
que teu ego teimou inventar.
Amei-te, poeta sonhador,
respeitei-te na contemplação
de outras querelas temporãs.
Hoje? O Hoje não existe mais;
nem sonhos, nem pesadelos,
felicidades ou mais venturas.
Finaram-se os poemas de amantes.
O olhar já não implora,
a boca, cerra-se e silencia ais,
e mãos que não se tocam,
prenhas de raiva e de desventuras...
Amar? Hoje? Só como farsa dramática!