O poeta morreu

O poeta morreu

De amor

Mas continua vivendo

Foi ao inferno e ao céu

Voltou

E continua apenas sendo

Sobrevivente e não mais vivente

Corpo são e alma doente

Sobrevive, mas não vivencia

Vive no limbo e morreu na poesia

Ela não soube dar valor a quem lhe amou de verdade

O melhor, poeta, é voar para longe dessa vaidade

Sua alma reencarnou na frieza e escuridão

Nenhuma aurora ou céu azul dá-lhe cola ao coração

Nesse universo onde a escuridão é regra e a luz é exceção

O que era melodia virou barulho e confusão

Não tem mais banda, só sobrou a percussão

Os batimentos desaceleraram em desilusão

Provando ao poeta

Que tem música que é melhor sem ler a tradução

O poeta vai ter de arranjar outro ofício

Psicólogo, cardiologista, filósofo

Mas é difícil, verso é vício

É curativo para um coração partido

Conversa com o verso, peito doído e pulsando

Pois um bom partideiro só chora versando

Sofre no amor pois a ingenuidade faz parte

Ingênuo, é poeta e ainda não sabe

Se a arte imita a vida ou a vida imita a arte

O poeta morreu

Parou de escrever

Não por falta de talento

Ele padeceu

Está morto por dentro