Outra vez
Outra vez o asfalto, a encruzilhada e a caverna
Outra vez o assalto, o moço e a lanterna
Outra vez o poço, os ossos e os fantasmas
Outra vez a dúvida, a raiva e o manifesto
Outra vez a lama, a trama e o protesto
Outra vez a noite despida sem pudor
Outra vez o pó de tudo aquilo que se conquistou
Outra vez o crime nas falas e nos costumes
Outra vez o passado disfarçado e sem perfume
Outra vez o sol, a lua e a escuridão
Outra vez os olhos na cegueira de corrupção
Outra vez o úmido, o mofo e o limo
Outra vez os porões de chão frio e sem arrimo
Outra vez o pão sem manteiga e sem gosto
Outra vez as caras pintadas naquele posto
Outra vez a casa sem firmeza e sem reboco
Outra vez a vida um saco e um sufoco
Outra vez o muro se erguendo e separando...
Outra vez o medo crescendo e nos matando.