Fico a Dançar
De longe tudo é mais fácil
Tudo acontece pelo lápis
Que desenha o destino
Das pessoas desencontradas
É mais fácil controlar as letras
Do que as sensações
Guardar em caixinha uma música
Em que a bailarina dança e gira
Pedir ao espelho para dar palpites
E desfazer o penteado
Por causa da festa que não houve
Da música que não foi dançada
Das palavras que não foram ditas
Da confiança que não se teve
Da coragem de arremessar ao tempo
O desejo da felicidade
De não se contentar com um sorriso
De preferir guardar os sonhos no coração
Por pensar que não tem prazo de validade
Por considerar imutável o sentimento
Por esquecer que a vida é um sopro
Por não saber que a palavra é remédio
E que guardar carinho em frascos não vira perfume
Que não adianta sentir ciúme
Que o pássaro só é feliz sendo livre
Que a voz reprimida das tuas palavras quer liberdade...
Até mesmo as palavras devem ser transmutadas
E se de tanto tempo guardadas
No âmago do ser
Adormecidas ainda esperam um amanhecer
Abre a caixinha e ponha a mocinha a dançar
Recorda-te da música e começa a cantar
Sem perguntar o que queria
Sem ter respostas por não haver pergunta
Sem ter mais tempo porque é outro dia
E já se faz tarde
Mas... antes tarde do que nunca
Alguma pergunta?