SEPARAÇÃO IV
É hora de desmontar a vida,
É hora de apagar os sonhos,
É hora de desarrumar o peito,
É hora de demolir castelos,
É hora de encher as malas,
É hora de esvaziar a alma
E de inflar de dor o coração...
É hora de fragmentar conquistas,
É hora de espalhar as pérolas
Do colar que se quebrou,
É hora de juntar os cacos,
É hora de estraçalhar inteiros
Daquilo que o amor edificou.
É hora de dividir os livros,
É hora de recolher as fotos
E de despir paredes
E de guardar os quadros
Que denunciam as alegrias
Vividas intensamente nesse tempo,
Que em todo tempo fomos um só.
É hora de bater a porta,
É hora de virar a costas e engolir a dor,
É hora de ir embora,
É hora que eu não quero,
É hora que ainda espero
Que me peça pra ficar...
Mas sei lá, sua voz continua presa.
É mesmo hora de partir,
De seguir a trilha e vulnerável pela vida
Como lebre no deserto,
Aventurar viver.
É tempo de carregar desejos,
De deixar passar o tempo
E esperar que um dia de manhãzinha
Você me encontre por aí...
Mas pode ser que nesse tempo
A voz calada seja a minha.
E na somatória, no mais e menos
Dessa aventura de amar,
Onde tanto se perdeu,
Irás descobrir que perdi que eu tinha
Mas que tu perdeste bem mais que eu.