SOBRA
SOBRA
Paulo Gondim
29/002/2016
Ainda hoje me cobram e muito
Por uma obrigação que já havia pago
Anos a fio só me doando,
Só ida, nada de volta
Numa via única, torta
Numa vida sem vida, morta
E continuam cobrando.
O débito não tem fim.
Tudo o que fiz foi pouco
Querem apenas tudo de mim
E continuarei doando
A água do poço não se esgota
Alimentá-la-ei, assim querem
Com a ganância de sempre posta
Descobri que todo o esforço foi em vão
E já no adiantado dos anos, o desgosto
O dissabor da vontade esquecida, ameaças
Rancor, caras feias, bocas arregaladas
Dentes afiados, palavras ferinas
Foi o que ficou do conjunto da obra
Restou-me apenas alguma sobra.