Meu eu-amor!

Estou magoada com a gota amarga que ousei-me a experimentar. Me disseram que era amor, um fácil ardor que no peito senti.

Não sabia quão perigosa era a fruta do pecado, Eva pagou caro, traiu sem saber o perigo. Quem salva o instinto é a inteligência de ouvir sua consciência ao ter que se arriscar.

Se o querer é livre, as angústias que temos são alvo dele. Tristeza brota da nossa imaginação. E o simples fato de querer te expõe à uma nudez pérfida.

Quem te enxergar de longe fará de ti algo que não cabia à tua vontade de ser. Como lançar uma pedra e não saber onde cairá. Só a gravidade garante o retorno dela à Terra.

Assim é o amor. Amamos, mas só o tempo pode nos mostrar se foi, se não uma aventura qualquer que resolvemos experimentar. E nem falo das ilusões, esta qualquer dose de "ignoro-me" pode resolver. Mas o amor mais sutil... ninguém pode saber.

Pra que entregar as cartas num jogo de incertezas? Fico com a única, o amor. Semi-flor, sem desabrochar. Desabo a cada fim do acaso que depositei meus dias futuros. Que culpa tenho de enxergar nos teus gestos o que sua mente tenta abafar?

A maior sabedoria é se amar. O resto? Chamaria de fragmentos de felicidade prestes a me boicotar!

Ah amor, chega pra lá! Quero me deitar no lado mais favorável e encostar o meu rosto na saudade mais fofa. De roupa, me apresento solene ao teu soar. Das bocas, contaram o inexistente aos meus olhos e que só meu coração pôde captar.

Covarde eu te acho! Se torne concreto e não abstrato, quero te tocar. Onde estás tu a cada dormida em leitos alheios, nos seios fartos de gente que desconheço e renego o prazer de olhar?

Corpos que se repreendem numa dança de vícios, mentes que se atordoam por não saberem se controlar. Teu desejo não é meu, dialogo com você por pura insistência. Para de fazer vítima que usas como escudo para se camuflar. Se tivesse compaixão, sairia do meu coração. Ao invés de me condenar a despertar enfadonhos rapazes.

Meu sangue? Pulsará o necessário pra fazer o maquinário corpóreo funcionar. Não quero as palpitações, nem o sonho vil que produzo em cenas dramaturgas.

Com licença! Pois enxergo bem. Chega de visões turvas.

Conversei com a natureza, e a ela pedi explicações! Pra que selar de prazer um ser com outro ser, perpetuando a espécie? Me vincula à alguém pelo próprio temor de aqui não mais se encontrar. Engana-se na sua própria tese, quem não reproduz também quer amar.

Busco explicação pra tal sensação perdurar além-tempo. Em confrontos de vida, pessoas feridas, amantes, detentos. Escrevo num pequeno espaço que o amor me permitiu ser eu mesma. Mas viver com ele é quase uma condenação, dos ateus ao cristãos que já injetaram amor nas suas veias.

10/12/2014

Maisalobo
Enviado por Maisalobo em 29/02/2016
Reeditado em 31/05/2018
Código do texto: T5559389
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