Ciclo do eterno retorno

O pior não é a tristeza,

pois as lágrimas já secaram há muito tempo,

o pior é o topor, de novo,

aquela sensação de paralisia da alma e do coração,

aquela falta de um horizonte para o qual olhar,

aquela impossibilidade que se torna uma constância aprisionadora,

aquela derradeira situação onde tudo falha irremediavelmente...

O pior não é o desânimo,

pois o vigor há muito já foi embora,

o pior é a derrota, mais uma,

aquela sensação de impotência, imobilidade e descrença,

aquele buraco no espírito que fixa os pés no concreto do chão,

aquela ausência da essencia vital que impulsiona o querer mais,

aquele ciclo do eterno retorno que aguarda uma morte que não vem...

O pior não é a depressão,

pois a melancolia sempre esteve entrelaçada à solidão,

o pior é a humilhação, contínua,

aquela sensação de fracasso como destino e confirmação existencial,

aquela dor que vira uma rotina resignadamente incômoda,

aquela agonia lenta que não encontra consolo em lugar algum,

aquele abandono silencioso que reforça a ideia de que és um nada...