O choro

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Ao rolarem, intrépidas, banhando o rosto meu,

lágrimas mornas carregam meu clamor.

Desencantado, vítima insânie da usura,

choro não negando a desventura,

do amor que se perdeu.

Essas gotas, minha amada,

lavam-me a alma que,

sufocada,

repete a hora do imprevisto não.

Relâmpagos do desgosto – caem,

banhando-me o sentimento.

As mãos que no passado afagavam teu corpo,

minhas mãos – lembro as carícias –

são, hoje,

'que lúgubre ironia!',

sustentáculos por onde escorrem

as lágrimas do amor findo.

‘Stou distante, afastado do mundo, da imensidão;

‘Stivemos amantes – pergunto-me, afinal:

foi amor em demasia

que me trouxe a solidão,

ou amar com primazia

é pintura obsoleta

sem valor sentimental?

Que venham as inovações, ó Deus!

Mas não permitas que a rigidez dos corações

Dissocie o amor da fantasia

nem o canto – lúdica razão romântica –

da poesia.

Se o meu canto, angústia poética,

não mais afaga o ego da menina

de soberba ilusão;

deixa-me morrer ao som deste verso:

prefiro a morte aos apelos do capital.

Fortaleza-CE, 26 de setembro de 1999.

18h42min

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Do meu livro 'Anversos de um versador'