SEPARAÇÃO III
Hoje sobre a mesa de centro da sala
Não há mais fotografias, apenas os quadros,
Uma agenda do próximo ano e uma mala
Com os restos das promessas não cumpridas.
Os discos na caixa sobre o tapete
Indicam o fim de tudo que um dia
Eram danças, risos e festas...
Acabou.
O amor enjoou.
O mesmo ar é pouco para dois aspirarem juntos.
Cansou.
O “a vida continua” não é um consolo
Apenas uma verdade amarga que teremos de digerir,
Ruminar, digerir, ruminar...
Lamentar? Sim, é um direito torto
Para justificar o pranto certo que vai chegar.
E nós, o que seremos?
Bons amigos? Bons inimigos?
Ou simplesmente seremos frágeis metades a espera
De outra metade para voltar a ser inteiro?
Culpar a quem agora que amor ruiu?
Preocupamo-nos tanto com os terremotos
E esquecemo-nos da ferrugem que consumia a tudo
Da maneira fria e silenciosa
Que a ferrugem encontrou para desmoronar
As torres colossais dos amores gigantes.
Tudo se renovará: o riso, os sonhos, os planos, a vida...
Mas será que tudo poderá ser como antes?
Foi eterno enquanto durou,
Será eterno enquanto lembrado
E isso simplesmente é inevitável:
Não se apaga memórias
Nem mesmo com novas e lindas
Histórias.
E talvez esse, seja o nosso maior engasgo.