Mil outras vidas
Um dia a menina cresceu
deixou seus sonhos guardados
debaixo de colchão de palha
o tempo arrastou seus dias
e ela passou
da conta
da medida
e esqueceu dos seus segredos
Deixou que a amargura
lhe tatuasse a carne
e trouxe debaixo do braço
suas dores antigas
Chorou cada filho
que perdeu
para a vida
para a morte
e sobreviveu
Lamentou os amores
eternos
e fulgazes
que a esqueceram
em um canto da vida
Desejava seguir viagem
mas o tempo parou no tempo
e a castigou com mil outras vidas
E a menina que traz na face mil faces
coloca os olhos a orarem
E pede pela memória da morte
que não a esqueça
à caminho do infinito...