O MITO

Sei que jamais me perdoara

Matar-me para servi-la.

Fulana quer homens fortes

Couraçados, invasores.

Porque preciso do corpo

Para mendigar fulana,

Rogar-lhe que pise em mim,

Que me maltrate...assim não.

Mas não quero nada disso.

Para que chatear fulana?

Pancada na sua nuca

Na minha que vai doer.

E daí não sou criança

Fulana estuda meu rosto

Coitado: de raça branca

Tadinho: tinha gravata

Desinfetados, gravados

Em máquina multilite.

Fulana, como é sadia!

Os enfermos somos nós.

Sou eu, o poeta precário

Que fêz de fulana um mito

E lhe dou todas as faces

De meu sonho que especula!

*Modificação do texto de Carlos Drummond de Andrade - O MITO