Com a Saliva no Sangue.

Dizem que brevemente eu morrerei
na leve tortura de uma lembrança sua;
Destroçando a carne da esperança,
afogando-a em loucuras diversas
e respirando a água das chuvas tortas
no cintilar de uma íris perversa;

E lá - onde aqui me encontro -
mesmo não dizendo quase nada
(nem metade da lama em si)
hei de voltar
com o cachecol no pescoço
e nas mãos, o esboço
dos poemas (blasfêmias!)
que escrevo em teu nome.
Pois é tudo pra ti;

Não te disse nada
desde a cama em que durmo
até a maré e a enxurrada,
onde a chuva (sozinha) ameaça
lavar-me inteira
tirando o teu perfume de mim,
rasgando o teu nome daqui,
com suas quatro angustiosas letras;

Nos fins de minhas tardes, vejo-te
parada ao vão da porta;
Na caneta, meus melancólicos dedos
descrevem o reflexo torrente de tua imagem embaçada;
Tortas linhas
nas absortas gotas de orvalho em sangue que percorrem teu corpo
e que nunca te agradaram;

Ainda tenho paixão pelos teus cabelos!
Ouço, no escuro, meus dedos a percorrê-los
no enlace do abraço nosso
(onde o contraste do meu sorriso
é o redemoinho do teu feitiço);

Ah! Se não te esqueço
é por preguiça - não medo -
de perder-me dos teus olhos,
de encontrar-me reluzente
no chão das rentes flores
que eu mesma desperdicei;

Estás calada, de boca fechada
e, ainda assim,
afundas tua língua negra em mim
ao me ameaçar no cumprimento da palavra;

Há em mim a loucura!
Existe aqui, o fogo ardente!
Tenho tua voz emitida em meu cérebro frouxo
no lúcido amor do copo
que ouso beber todas as noites
ao brindar o meu horror!

Meu momento particular,
já consegue ter duas cores:
Azul - me lembrando o teu céu
movimentando meu pescoço além da alma;
Vermelho - da chuva morta
e o mar cinzento que tu navegas;

À noite, eu sugo,
nos dentes negros de sabor agridoce,
no manto de algum mosquito morto (catástrofe),
o sabor de suas entranhas;

Desejo que tu sintas desgosto
por ter um dia gostado de mim;

Existem úteros em teus olhos
gerando calúnias ao amor - já morto -
e os olhares rancorosos,
são os admiradores dos outros que rodeiam teu corpo;

Ah, se me ouço declamando
os cadernos ou choros -
no sentir do abandono,
devoraria-me!
Ou as palavras que escrevo
retornariam ao purgatório,
onde as almas vizinhas
repousam como hóspedes;

Tu te afastas
imitando com a boca o som da porta;
Abalas a ternura
e sacrificas o porco na tua calúnia,
onde teu café é veneno;

Já me é possível ver reflexos na madeira!
E alargando meus ouvidos
no corredor desabitado,
o lastimável estado em que me encontro
é pura farsa! -Adiante -

As rimas duras noite adentro,
são minhas palavras ditas ao vento (ecoando sozinhas);

E só no ato
ao reencontrar minha língua perdida na tua,
emergindo em tua garganta - promessa minha -,
lembro-me:
"Sou louca e esquecida da realidade!
e tu, que não amas de verdade,
diverte-se ao conter meu nome
em tua rouca voz";

Tuas dores são o sal que deslocam meus pensamentos,
e teus medos são a doçura do horizonte de minha pele;

E não há algo tão lindo a ser observado no escuro:
Tu - ali - a me possuíres - assim;

E aqui - tua morada -
está guardada a tua lembrança.
No semblante do ardor cego
e no verniz seco de meus pulmões (o suspiro ao dizer teu nome).
 
Lainni de Paula
Enviado por Lainni de Paula em 23/10/2015
Reeditado em 30/10/2015
Código do texto: T5424103
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