De que serve o amor?

Quando tem um lado só e não dois

Quando cada palavra machuca como uma punhalada nas costas

Quando cada gentileza é um prelúdio para a despedida?

Quando corações se partem feito cristal em mãos descuidadas

Quando almas mofam feito pelúcias abandonadas no fundo do armário

Quando sonhos se desintegram feito a bomba de um terrorista suicida?

De que serve o amor?

Quando tira tão mais do que entrega?

O sono, a paz, aquela esperança bobinha que já não vale mais nada

Vai tirando um pouquinho por vez

Até sobrar apenas um poço fundo de lágrimas

De que serve o amor?

Quando cria expectativas ridículas e te arrasta pra um buraco negro

Quando te faz olhar os mesmos ciclos eternos e ver um brilho inexistente

Quando te faz surda, muda, tonta, te eleva às alturas só pra te ver despencar?

De que serve o amor?

Se é o rei das ilusões, o imperador das decepções

Se te faz tão forte, mas tão fraco

Se te dá coragem mas impõe terríveis condições no lugar?

De que serve o amor?

Se machuca a alma e nunca servirá pra nada

Se tenho que fechar os olhos e deixá-lo partir

Se minha voz nunca vai alcançá-lo, mesmo que ultrapasse o som e vire luz?

De que serve o amor?

Se minha ânsia e tê-lo me faz pior a cada instante

Se a beleza singela vira obsessão obscura sem eu sequer perceber

E se a lua cheia amarelada em minha janela parece outra piada de mau gosto?

De nada, nada serve esse amor que me aprisiona

De nada, nada serve esse amor que me sufoca

De nada, nem uma perspectivazinha sequer

Então por que, por que ainda se aninha no fundo do meu peito ferido?

Por que ainda escorre por meus olhos cansados?