Sobre todas as Falsas Amizades
Por que sou sempre eu
Que tenho que ser racional
E encontrar saídas sensatas para todas as discussões?
Por que sou sempre eu
Que reluto em agir como criança de cinco anos
E insisto em conversas de rebuscada psicologia?
Eu queria ser
Apenas por uma vez
A garota dos arranhões e puxões de cabelo
Das choradeiras melodramáticas
E das ameaças dignas de valentão do fundamental
Eu queria ser
Apenas por uma vez
A garota que destrói amizades e faz disso um show
Que conta mentiras e faz disso um teatro
Que incita brigas infantis e se deleita no caos
Eu queria ser
Apenas por uma vez
Aquela que não se sente idiota por tentar salvar almas perdidas
Que não se fere nos estilhaços por ser sensata demais para atacar
Que não passa eras meditando quando todos já seguiram em frente
Do jeito mais ridículo possível
E agora estão rindo como se a errada fosse eu
Eu queria ser
Apenas por uma vez
A garota que não se importa em trocar de personalidade,
De corpo ou de alma
Apenas para não ficar sozinha
A garota que faz dos outros seu modelo de conduta
Apenas para sugar-lhes a energia
Enquanto servirem a seus propósitos
E eu queria esquecer a razão
E fazer o maior escândalo da face da Terra
E queria arruinar todas essas falsas amizades
Sem medo de parecer infantil
E queria desejar a esses falsos amigos uma morte lenta
Enquanto limpo o veneno que escorre pelo canto da boca
Porque cansa ser paciente
E tentar ensinar sempre as mesmas coisas
Para que não quer aprender
Porque cansa ser razoável
Com quem recorre a joguinhos infames e covardes
E cansa se sentir idiota
Por ter-se deixado cercar por idiotas
Eu queria por uma vez
Quebrar as correntes da decência
E arrastar para o Inferno
Todos aqueles que provaram merecer
E queria, só por uma vez
Deixar-me embeber em toda a arrogância
E falar todas as palavras quentes entaladas na garganta
Mesmo aquelas em que, no fundo, nem acredito
Porque parece que, num mundo de golpes baixos
Sou a única tentando manter a cabeça fria
E só o que conseguirei com isso é derreter
E todos os monstros que derroto deixam um pedaço de si comigo
Todas as palavras duras que engulo ricocheteiam em meu peito
Todas as despedidas que causo e que vivencio me afastam um pouquinho mais da humanidade
Todos os amigos falsos que um dia se revelam acabam caindo no velho poço da indiferença
Que qualquer dia desses ainda vai transbordar
E mesmo que eu não ganhe o prêmio
De Rainha do Drama do fundamental
E abdique das brigas cinematográficas
Porque não servem para nada mesmo
Deixo-lhes meu sarcasmo
Deixo-lhes minha arrogância
Deixo-lhes meu desejo sincero e maléfico
De que colham exatamente o que plantaram
Porque para todos os vampiros infames
Que jamais aprenderão uma liçãozinha sequer com seus erros
Só resta deixar esse ensaio
Sobre todas as falsas amizades