Nós
Na lida sigo, atando e desatando nós,
nós que vou criando, alguns sem ver,
e num relance eles passam.
Para trás vão ficando pessoas ímpares,
e logo detrás, pessoas pares,
as quais nunca quis ver.
Os meus nós são fortes,
alguns bobos, outros impensados,
outros mal dados!
Criados todos com uma asnice tamanha,
coisa de gente tonta ao meu ver!
Mas essa asnice adverte
que os meus nós são essenciais
para que eu escape do monstro!
Sou criança amedrontada,
ainda fujo do boi da cara preta,
sinto arrepios da careta como ninguém
e nunca atirei o pau no gato!
A vida é costura, sempre repito isso!
Me sinto um relógio de igreja,
vivo repetindo tudo.
Repito medos, repito nós,
repito roupas, repito versos,
repito meias velhas,
algumas de velhas param em pé!
Me sinto um papagaio avarento,
só que, sinto muito em dizer:
repito tudo na vida,
menos amores,
menos ares!
Pelo menos tenho nós
para atar e desatar,
pelo menos tenho ar!