FALTOU-ME O VERBO


Tua esbeltez me fez
(desejar, sonhar, orar?)...
confuso.
Esqueci todos os verbos do meu idioma.
Cantei, toquei, beijei...
Sei lá!...
Qualquer verbo do  pretérito.
Timidez, estupidez... é o que me vêm
e sequer  são verbos substantivados...
Meu pensar,
mero intransitivo nas regras gramaticais.
Preciso de um verbo que substitua minha estupidez.
Um verbo irregular
ou auxiliar de minha cantada silenciosa, pecaminosa... 
que seja complemento do meu pensamento não explícito,
em que eu ache ou sinta que te toquei,
como um verbo de ligação onipessoal
na formulação de mil ideias ilógicas.
E te segui, ou te persegui, ou prossegui
inventando metáforas pinçadas de tua sinuosidade
mais-que-perfeita,
crente de que o teu trajar e teu andar impecáveis
tornavam teu corpo e alma intocáveis, invulneráveis.
No pretérito me apeguei
em busca de um verbo que expressasse minha timidez
diante do teu sorriso e do teu charme.
Enfim, já adulto,
sonhei envolto com teu vulto num verbo oculto,
mas o verbo não se fez carne...