Cometi Um Erro
quando escrevi um poema sobre
alguém que me despertava curiosidade
"fique na sua meu velho, isso não vai durar"
se eu tivesse desenvolvido o hábito de me ouvir
(e o de não pensar)
não estaria nessa
você ganha o afeto dela
e você habita
outros braços, outras pernas, outro sexo
outra pessoa
e você está
suficientemente feliz para acreditar
que a vida foi generosa
mas você cometeu um erro
escreveu um poema, e mais
mais um montão deles
é
não tem mais volta
você percebe, todos percebem
você agora é uma posse dela
e que lá no fundo isso não vai acabar
bem
(nunca acaba)
aí você começa a duvidar se é
capaz de viver sem isso, sem amor, esse amor
e você achou que era
por um tempo se sentiu seguro
até começou a sonhar
a vida não sabe sonhar
ela desfragmenta o sonho
como os primeiros raios de sol
atravessam por entre a neblina da manhã
e o seu amor, despedaça com a distância
o seu lugar sempre foi esse
entre copos vazios, entre homens embriagados
contando suas tristes histórias para o estranho que é você
entre as ruas que separam os bares
e os braços que você habitava seguem em frente
levando tudo com eles
você tenta não olhar nos olhos da prostituta
para não pensar no quão medíocre
vocês dois são
e tenta fingir habitar ali
"me desculpe, não vai rolar"
você dispensa a puta e vai se prostituir
vender-se por algumas migalhas
um dia você quis o pão inteiro
mas você cometeu um erro meu velho
não deveria ter escrito os poemas
(não devia ter amado)
e agora migalhas te bastam
um consolo pelo que te é negado
cambaleando escada acima
você se arrepende de não ter bebido o bastante
para ter aceitado o convite daquela puta
você se joga na sua cama
olha para o teto
coloca suas músicas mais relaxantes para tocar
tenta se masturbar
mas você cometeu um erro
acabou meu velho
e dessa vez te pegou de jeito
veja:
você nem está conseguindo gozar.