"POESIA ESQUECIDA"
Minha velha poesia esquálida e tristonha,
Coberta pelo mofo do abandono,
Numa folha de caderno rabiscada,
Amarelada, rasurada, amarrotada.
Por quanto tempo esteve esquecida
Nesta gaveta no tempo perdida.
Ainda tem a pétala de rosa
No canto esquerdo do papel disforme,
Que grudei um dia com goma de mascar
E as duas lágrimas desenhadas sobre um gordo coração.
Inutilmente tento desamassa-la com o calor da minha mão.
O que me fez conservá-la,
Minha poesia tão feia?
Com esses remendos visíveis, como remendo de meia.
Voltarei a rasurá-la, velha poesia esquecida,
Não pense que vai ser lida e encher-se de animação.
Você é a poesia bêbada
Que rabisquei de pileque no cantinho de um balcão,
Do aeroporto italiano, enquanto eu aguardava o horário do avião.
Não se engane de novo,
Não beba mais esperança,
O sabor do absinto ainda tem na lembrança.
Poesia torta que só conhece a incerteza
E dissemina a tristeza só pelo seu existir
Entre os poetas não há lugar pra você.
Volte ao esconderijo com sua voz rouca, gaguejante,
Sua face pálida, as mãos tremulas e suadas
Só porque alguém a olhou,
Mas nem sequer viu seu pranto
Que disfarçando com um lenço
Você tentou ocultar.
Vê? Há um poema mais bonito
Que ecoa no infinito, abafando o seu grito,
Sufocando seu penar.
Poesia embriagada, não saia do esconderijo,
Pois é ali o seu lugar.
Escuta o poema épico que a voz do poeta sóbrio
Começou a declamar.
Não chore poesia feia,
O seu pranto não comove
Hoje é dia de cantar.
(Hull de La Fuente - Claraluna)
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