"POESIA ESQUECIDA"

Minha velha poesia esquálida e tristonha,

Coberta pelo mofo do abandono,

Numa folha de caderno rabiscada,

Amarelada, rasurada, amarrotada.

Por quanto tempo esteve esquecida

Nesta gaveta no tempo perdida.

Ainda tem a pétala de rosa

No canto esquerdo do papel disforme,

Que grudei um dia com goma de mascar

E as duas lágrimas desenhadas sobre um gordo coração.

Inutilmente tento desamassa-la com o calor da minha mão.

O que me fez conservá-la,

Minha poesia tão feia?

Com esses remendos visíveis, como remendo de meia.

Voltarei a rasurá-la, velha poesia esquecida,

Não pense que vai ser lida e encher-se de animação.

Você é a poesia bêbada

Que rabisquei de pileque no cantinho de um balcão,

Do aeroporto italiano, enquanto eu aguardava o horário do avião.

Não se engane de novo,

Não beba mais esperança,

O sabor do absinto ainda tem na lembrança.

Poesia torta que só conhece a incerteza

E dissemina a tristeza só pelo seu existir

Entre os poetas não há lugar pra você.

Volte ao esconderijo com sua voz rouca, gaguejante,

Sua face pálida, as mãos tremulas e suadas

Só porque alguém a olhou,

Mas nem sequer viu seu pranto

Que disfarçando com um lenço

Você tentou ocultar.

Vê? Há um poema mais bonito

Que ecoa no infinito, abafando o seu grito,

Sufocando seu penar.

Poesia embriagada, não saia do esconderijo,

Pois é ali o seu lugar.

Escuta o poema épico que a voz do poeta sóbrio

Começou a declamar.

Não chore poesia feia,

O seu pranto não comove

Hoje é dia de cantar.

(Hull de La Fuente - Claraluna)

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Hull de La Fuente
Enviado por Hull de La Fuente em 11/06/2007
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