Meu Íntimo

De pai para filho

Nosso sangue corre nas artérias

Sem nenhuma arte

Sem criação

Na confortável falta de opção

Os laços romperam

A máscara trincou

Uma fronteira se quebra

E não há como regressar

No gesto augusto, dos anjos caídos

A mão, agora, apedreja

Pela antecipação do tapa

Orgulhosa demais para afagar

E você me mantém seguro

Sobre a montanha da cidade

Enquanto as luzes vão agonizando

Eu estou me enforcando

Mas, você é tudo aquilo

Que deixou de conquistar

Eu estou conquistando

Mas, você é tudo aquilo

Que deixou de conquistar

O copo nos rasga

A garrafa escorre seca

Aquece a frieza da noite

Aventuramos, pelo medo

Ferimos com a dúvida

Eu não alcanço a mim mesmo

Você me ensina a cativar

Pois você me suspende

Sobre a montanha da cidade

Enquanto as luzes vão agonizando

Eu estou conquistando

Mas, você é tudo aquilo

Que deixou de conquistar

O amor reduzido na gaveta

O amor resumido a um remido

Um elo perdido

Uma aliança na sarjeta

Enquanto as luzes vão agonizando

Sob a montanha da cidade

Enquanto as luzes vão agonizando

Sob a montanha da cidade

Ricardo Lispector
Enviado por Ricardo Lispector em 05/04/2015
Código do texto: T5196337
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