Fragmentos Mal Ditos - 2ºato
2º ato
A composição de Bach era mais do que podia querer. Fechou os olhos e deixou-se levar além da suposta imaginação que alimentava ou destruía seu ego, na mesma proporção, na mesma incoerente resistência de se querer só quando na verdade, era apenas por tempo de frágeis conquistas de liberdade.
Vieram imagens à mente e pode suportar as saudades que gelavam o estômago, do início até o próximo fim. De tantos sonhos, foi a falta de culpa que restou.
Piano e violinos, a chuva caindo suave como naquela tarde que te pareceu vida passada de tão distante que estava da realidade de agora.
Inclinou-se na cadeira, pensou no momento que não passava mais, olhou pela janela o dia claro de sol refletindo nas árvores, ouviu o silêncio de si, ajeitou os óculos e escreveu:
Se saudade matasse já estaria reencarnando – O cursor na tela como uma interrogação constante, como se perguntasse: E aí, o que mais, an, an?
Sentiu o gosto insípido daqueles sentimentos, das sensações sentidas pela intensidade e suspirou.
Nada mais escreveu.
Nada mais pensou.
Nada mais sentiu.
Como se tudo fosse sempre mais, o tempo parou naquela tarde perdida entre sonhos, lençóis e a realidade que é o mundo, onde estacionaram seus sentimentos.
Fabíola Colares