Chove neste domingo

Chove. Chove no domingo. Chove muito neste domingo.

Chove porque quero e também porque preciso que chova.

Chove muito: por dentro e por fora de mim.

A gota que cai é a mesma lástima que respingo.

A lágrima que cai é a mesma chuva que lá fora se faz - gotas parecidas, motivos distintos. Chove muito neste domingo.

E assim eu o precisava.

À medida em que me intensifico, intensificam-se as gotas - para fora de mim. Em lágrimas, e rua, caindo, estreitas assim.

A chuva lava minhas impurezas - porque também erro no amor (e admito).

Lava a mim. Lava a meu ser, minhas dores, meus receios e anseios.

A chuva que cai fora de mim é a chuva que eu preciso que caia.

Deixo para com ela tudo o que não fui, tudo que não disse, tudo que não fiz. Toda oportunidade que adormeceu. Tudo que não compreendo: afinal, às vezes não compreendo nem a mim ou às nuvens chuvosas presentes em dias ensolarados. Ela vem e se intensifica, e quão mais forte se torna, mais sereno me comporto.

Vou sentindo este manto, este velcro, este torpor.

Sinto alegria e amenismo, esta hipérbole dentro de um senhor.

E também envelheço!

Acalmo-me quando a chuva se acalma. Vou-me quando ela se vai.

O banho não é de desígnios, mas de alma.

O estalar das gotas no chão ecoa e seu barulho simboliza o término de cada emoção que a gota representa.

Mimetismo e analogia.

Animosidades e desígnios.

O estalar das gotas pontua-me.

Me leva.

Me lava.

Alexandre Bonilha
Enviado por Alexandre Bonilha em 22/03/2015
Reeditado em 22/03/2015
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