Nuvem
Não quero ser o poeta de um mundo caduco.
Tampouco quero relembrar o passado
E sentir-me cada vez mais velho.
Muito menos quero idealizar um mundo futuro
Que não passará de uma ilusão.
Estou precisando de uma dose de realidade.
Estou preso à vida e olho ao redor
E vejo meus companheiros tristes e vazios.
Entre eles paira o tédio, o nojo, o nada.
Enxergo neles a enorme realidade.
O presente é tão imenso que chegamos a nos afastar.
O repudiamos com medo de viver.
De tanto o afastarmos, acabamos de mãos atadas.
Mas é exatamente este tempo que compõe a história.
Uma história suicida e entorpecente,
Uma ilha de fuga e de ilusão social,
Tempo presente e distante,
Feito de homens presentes e estranhos,
De uma vida presente e gasta.
Encostei-me a ti, porque não tive escolha.
Meu coração já estava entregue ao teu.
Mesmo sabendo que eras apenas uma onda
No meu imenso mar de tristeza e tédio.
Sabendo bem que tu eras nuvem,
Eu me depus ao teus pés.
Mesmo sabendo que eras passageiro.
Eu sabia de tudo isso, como sabia,
E dei-me por inteiro a ti.
Toda minha vida, todo meu frágil destino.
Por isso, fiquei sem poder chorar.
Lágrimas sumiram, quando eu caí.