Nuvem

Não quero ser o poeta de um mundo caduco.

Tampouco quero relembrar o passado

E sentir-me cada vez mais velho.

Muito menos quero idealizar um mundo futuro

Que não passará de uma ilusão.

Estou precisando de uma dose de realidade.

Estou preso à vida e olho ao redor

E vejo meus companheiros tristes e vazios.

Entre eles paira o tédio, o nojo, o nada.

Enxergo neles a enorme realidade.

O presente é tão imenso que chegamos a nos afastar.

O repudiamos com medo de viver.

De tanto o afastarmos, acabamos de mãos atadas.

Mas é exatamente este tempo que compõe a história.

Uma história suicida e entorpecente,

Uma ilha de fuga e de ilusão social,

Tempo presente e distante,

Feito de homens presentes e estranhos,

De uma vida presente e gasta.

Encostei-me a ti, porque não tive escolha.

Meu coração já estava entregue ao teu.

Mesmo sabendo que eras apenas uma onda

No meu imenso mar de tristeza e tédio.

Sabendo bem que tu eras nuvem,

Eu me depus ao teus pés.

Mesmo sabendo que eras passageiro.

Eu sabia de tudo isso, como sabia,

E dei-me por inteiro a ti.

Toda minha vida, todo meu frágil destino.

Por isso, fiquei sem poder chorar.

Lágrimas sumiram, quando eu caí.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 11/03/2015
Reeditado em 11/03/2015
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