VOZES DO DESATINO
Procuro por vozes estranhas
muitas delas, sinalizam à loucura
fodam-se as bocas que às articulam
suas intensões
causas ou motivações;
busco pelas vozes que respondam-me ao desatino que vivo
procuro pelas vozes que profiro à tempos
desejo trancafiá-las novamente
ao mesmo calabouço que me trancafio
devolve-las ao mesmo buraco do qual
submergiram;
já está mais que subentendido
que sou meu próprio inimigo
existe um eu meu, de que não aprovo
quando ao sentir-se liberto
busca na libertinagem, atormentar-me
momento à momento
desgraça à desgraça
que o torna cada vez mais sedento
por algo ainda mais forte
por um motivo que de sentido ao momento
procuro entender
procuro não me importar
com as falas, com as vozes
é preciso falar;
sinto-me em um fosso prestes a explodir,
desejo fugir de minha própria arrebentação
não é fácil conter o desejo
sinto-me em desvantagem
são muitos os que falam
poucos me ouvem
menos ainda, somam-se os que me compreendem,
todos enfim,
almejam somar-se aos falantes
são como eu
resmungam para si mesmo
por pouco falar, hoje
nada falo,
por pouco ouvir, hoje
nada ouço,
apenas as perco
mãos solitárias
em meus bolsos.