Meu próprio exílio
Incautos murmúrios de luz
Invadem a noturna obscuridade
Do silêncio,
Despidos de lucidez
E de sólidas correntes rompidos
Em naus, como flocos nos azuis
Que - na imensidão do tempo -
Cortam as plácidas
Gravuras do espaço de ontem.
Sussurros de cálida bruma.
Velejantes ditongos,
Aros negros maltrapilhos
De vida, longos umbrais
A expor janelas de fuga,
Dentro dos olhos baços
Um espelho que se abre para outras
Divagações, talvez aquarelas.
O silêncio se dilui
Entre quatro paredes mal pintadas
E cobertas de retratos saudosos,
Amadas faces cultivadas
No peito, no canto
De uma cicatriz doída;
A dor, revivida pela música,
Sempre a melodia em concertos
De memória - só por quês?
E as madrugadas, em cada
Finda noite insone,
Consomem os restos do corpo
Embebido de mágoas,
Retalhado pela indiferença
E a ausência de outro corpo.
Lá fora, a melancolia
Dos pardais no arvoredo.
Dentro da alma vazia,
A desventura do poeta:
Que tão cedo perdeu a ventura
Desse ingrato viver.
(Assim era eu antes de conhecer Jesus.)