Nada inopino

Por quê ela não me ama?

Sei que sou doente

sofro de pânico a maior parte do tempo

escrevo um poema

ela não entende

não se interessa pela dor que tenho

Não tenho um emprego

não consigo trabalhar

não presto tanta atenção

perco tanto tempo

vivendo a chorar

esperando adoção.

Não sou do tipo bonito, nem forte

tenho medo de briga

medo de lugares lotados

algo me intriga

aqui sentado com textos espalhados.

Não tenho nada a oferecer

as vezes me sinto uma dona de casa dos anos 50

que espera a solidão bater em seu rosto

e cravar suas unhas criando estradas

que só levam ao desgosto.

Algumas manhãs na cama

olho o teto manchado , judiado pelo tempo

se movimenta mais do que eu

conta histórias de drama

um dia ele me cai no peito.

Quando a casa só tem a mim

os cães uivam minha presença

os gatos me encaram de frente

como faço eu tua ausência

arrancando um teco de dente.

Me olho no espelho para ver se te entendo

tiro as remelas e os pelos do nariz

e olho a barriga peluda

sim eu compreendo

não posso te fazer feliz

aqui coçando a bunda.

Tento procurar trabalho

as vezes nem desço do ônibus

passo direto pelas placas de ajudante geral

as vezes 5 minutos eu já desisto

falo com jesus

depois passo mal.

Fumo um cigarro, e já sinto como sera mais tarde

o chão do centro da cidade , se move e eu não

o sol me vigia mesmo aqui na sombra

meu coração pesado e abafado bate

e o cheiro de batata palha do dogão

e os pombos esperando a sobra.

Um deles voa cheio e livre

eu aqui vazio e preso

que injusto são algumas existências

como a reciprocidade

uma boca sem beijo

amor e dependências.

Robert Ramos
Enviado por Robert Ramos em 05/11/2014
Código do texto: T5024180
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