Nada inopino
Por quê ela não me ama?
Sei que sou doente
sofro de pânico a maior parte do tempo
escrevo um poema
ela não entende
não se interessa pela dor que tenho
Não tenho um emprego
não consigo trabalhar
não presto tanta atenção
perco tanto tempo
vivendo a chorar
esperando adoção.
Não sou do tipo bonito, nem forte
tenho medo de briga
medo de lugares lotados
algo me intriga
aqui sentado com textos espalhados.
Não tenho nada a oferecer
as vezes me sinto uma dona de casa dos anos 50
que espera a solidão bater em seu rosto
e cravar suas unhas criando estradas
que só levam ao desgosto.
Algumas manhãs na cama
olho o teto manchado , judiado pelo tempo
se movimenta mais do que eu
conta histórias de drama
um dia ele me cai no peito.
Quando a casa só tem a mim
os cães uivam minha presença
os gatos me encaram de frente
como faço eu tua ausência
arrancando um teco de dente.
Me olho no espelho para ver se te entendo
tiro as remelas e os pelos do nariz
e olho a barriga peluda
sim eu compreendo
não posso te fazer feliz
aqui coçando a bunda.
Tento procurar trabalho
as vezes nem desço do ônibus
passo direto pelas placas de ajudante geral
as vezes 5 minutos eu já desisto
falo com jesus
depois passo mal.
Fumo um cigarro, e já sinto como sera mais tarde
o chão do centro da cidade , se move e eu não
o sol me vigia mesmo aqui na sombra
meu coração pesado e abafado bate
e o cheiro de batata palha do dogão
e os pombos esperando a sobra.
Um deles voa cheio e livre
eu aqui vazio e preso
que injusto são algumas existências
como a reciprocidade
uma boca sem beijo
amor e dependências.