Tempo
"Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."
(Marcel Proust)
O tempo que me é solicitado
Soa como um caminho rumo ao desconhecido;
Onde o sorriso que é sonhado
Permanece presente, sem ter sido esquecido.
Talvez seja culpa do velho palácio,
Que com seus enigmáticos espelhos,
Invoca lembranças de um sutil prefácio,
Cuja trama esbanja olhos vermelhos.
Ou seja culpa da velha praça,
Iluminada na noite mais fria,
Aquecendo a quem abraça,
Na mais singela sintonia.
Tem ainda o velho parque,
Onde a viagem se tornou real;
E ainda que temido o embarque,
Permitiu o onírico ideal.
E na noite mais ardente,
Nervosismo em efervescência,
Vive a paixão sorridente
A mais doce coexistência.
Ah, mas o caminho é tortuoso,
Sobram-se parênteses e reticências...
E no momento mais tempestuoso,
Surgem as primeiras divergências...
Seria culpa, agora, da empolgação?
Ou seria culpa da perda da liberdade?
E nesta triste e difícil indagação
Entorpece a mais bonita verdade.
Lágrimas imprevistas,
Flores desesperadas,
Momentos intimistas,
Paixões exageradas.
"Eu quero estar cercado só de quem me interessa",
Assim canta a bela canção,
E sem qualquer tipo de promessa,
Aguarda-se, assim mesmo, a redenção.
Como num bom livro policial
Com suas páginas devoradas,
Espera-se paciente o final,
Com as lembranças afloradas.
E eis o tempo... trazendo lamento;
Rima ruim... na mais triste esperança...
E na busca pelo bom discernimento
Desistir ou viver na perseverança...