PONTO FINAL
PONTO FINAL
A natureza acordou no silêncio do caos.
De súbito, uma sinfonia alcançou os termos do universo.
O criador, ou o logos fez todas as coisas como o poeta constrói seus versos.
Uma a uma foram amarradas as esferas por rimas perfeitas.
Contudo, no olhar pequeno, do grão de areia que pela terra esperanças semeia.
Tudo parece confuso, um caos persistente!
O silêncio do imenso espaço causa uma estranha e perturbadora inquietação.
Na terra, o lar dos homens, a visão do cosmos, é tão pequena quanto as órbitas de seus olhos.
Seja aqui, ou entre as estrelas, a falta de palavras despe tudo de sentidos.
A natureza se torna nada e o nada mais um nada – é a física do silêncio.
Assim, dizem os homens que dizer é preciso.
Pois, os filhos dos anjos consomem palavras.
E nas palavras estão seus sonhos.
E neles seus caminhos.
O silêncio rouba as almas das almas.
E quando este se instala entre queridos.
É sinal que o mal avassala.
É maré destruidora que aniquila tudo à beira da praia.
Que faz do olhar brilhante um vidro fosco.
Que torna os amantes pares distantes.
Apenas viajantes que esperam o transporte na mesma sala.
Dizem que o silêncio tem seu momento.
Sobre isso, agora, não comento.
Uma vez que dizer é preciso.
A palavra certa é faca afiada.
Uma incisão perfeita onde há suspeitas.
Faz a alma sair do tormento.
Faz a dúvida partir do peito.
Une os casais, os devolve ao bendito leito.
- Ah, se tu dissesses só uma palavra!
- Ah, se tu abrisses os lábios e rasgasses as vestes!
- Ah, se teu amor me coubesse!
Dos astros ouviria essa criatura a mais suave melodia.
Com isso não mais suplicaria a luz do sol;
Nem desejaria a claridade da lua;
Nem das trevas teria medo.
Seria eu como no início de tudo.
- Éramos conversa de amigos!
- Éramos um diálogo garrido!
Mais uma vez a natureza acordou no silêncio do caos.
Viu que não havia poesia e se calou por um instante...