Estranha inquietude
Como nos contos um amor surgiu,
transcendeu minh'alma, tirou-me fardos,
colocou em alto cume um mero sonhador!
Deu-me alcunhas carinhosas,
enche-me os olhos de alegria.
És conto? Estás instalado em mim ...
Perduram incertezas ao sonhador,
e aos poucos minha carne treme,
falta-me apetite, rouba-me sonhos
e sonos em noites tristes!
Sonhador triste, pelos fatos não narrados
e por expressões tão vagas!
Alivia-me dores em dia de trabalho
e espanca-me ao sol, no meu descanso matinal.
Como num conto mal feito,
ao ser que deseja não cabe outra vida
pois precisa ser tão hostilmente ferido
ao som das incertezas.
Um dia, pelas tentativas
e duradoura forma pertinaz,
meus desejos e vida serão amadurecidos ...
Não consigo ainda dizer adeus
pois creio nos contos mal falados,
minha carne trêmula e meu apetite
em vagas horas saciam-me,
alimentam minhas crendices.
Tenho medo de cair-me no opróbrio
e jamais retornar aos mesmos sonhos de criança.
Nefasto homem em mim despertou,
Quantos lamentos meus!
Sonhos que não pedi,
como castigo me deste a vida,
ao caçador de homens, sem armas,
triste, faminto e contínuo desejo!
Queria eu acordar e fazer de tal conto
o mais lindo dos contos,
mas os medos que me rondam não desgrudam...
São alicerces arquitetados na areia da vida,
aos quais tais homens chamam de amor!