PEITO MAGOADO

Ao amigo Bragaglia 1966

Perdi a chinoca negrito

e peço a tua intercessão,

pois estou na escuridão

longe do facho do amor,

por isso faça o favor

de alumiar meu caminho,

me desespero sozinho

e a vida não tem valor...

Bem sei que já estivestes

em igual situação,

repontando redomão

perdidos no descampado,

e muito fostes judiado

por isso mereces crença,

por ter tido dor intensa

por ter sido maltratado.

Porém, se não sou negrito

sombra de que fostes tu,

nesta prece em couro cru

me achego com devoção,

pois este meu coração

sem amor não quer viver,

tu precisas devolver

minha china ao meu galpão.

Minha china me deixou

sem dar nem satisfação,

me castrando uma ilusão

que tinha no pensamento

e desde aquele momento

me deu a peste da tristeza,

e nem mesmo a natureza

me alivia este tormento.

Pego num pialo de amor

eu caí no chão derrotado,

mas por ti sendo ajudado

da peste irei me curar

e voltarei a c ampere ar

no campo ermo: “O Coração”,

pra deste pialo da ilusão

eu poder me levantar. .

Negrito, se não trouxeres

minha china pra querência,

eu te juro que tenência

nunca terás mais de mim,

pois te garanto, estou assim:

gaudério, pobre e sem luxo,

e esta minh’alma de gaúcho

vive em martírio sem fim.

Eu vou esperar sete dias

até a tua intercessão,

com calma, com devoção,

e espírito reverente,

a dor que este índio sente

pela ausência de sua china,

é martírio que não termina

e descadera um vivente...

Eu sei que estou blasfemando

contra tua santidade,

se não creio na verdade

do teu milagre sagrado;

Porém, estou abandonado:

como um filho de perdiz,

tenho enorme cicatriz

neste meu peito magoado.

Há muito estou rengueando

das pernas do coração,

sei que não tem jeito não.

Se Ela não voltar negrito,

se eu tiver que andar solito,

e, deserdado da sorte,

te juro, prefiro a morte,

a viver só em meu ranchito.

Tapejara Vacariano
Enviado por Tapejara Vacariano em 06/08/2014
Código do texto: T4911670
Classificação de conteúdo: seguro