Colheita
Planto rosas,
Colho dores,
Rego espinhos,
Semeio amores.
Lapido em pedras pálidas, meu cansaço
Jorra em fonte seca, minha lástima
Brota em terra morta, minha inglória.
E nas pétalas de uma rosa negra ganha vida a injúria.
Planto rosas,
Colho dores,
Rego espinhos,
Enterro amores.
Desprende do peito o açoite do desejo
E em tela viva rabisca a vida
Preto, sangue
Cinza.
Prego estacas,
Apago velas,
Derramo o cálice,
Desdenho a reza.
Agarro-me nas lembranças de memórias mortas
Lastimo as perdas rasas,
Devoro vitórias amargas,
E sobre o véu da vida me desgasto em batalhas escassas
Planto vida,
Colho velas,
Rego risos,
Enterro aquilo que me resta.
Crucifico a vida que me deras
Sangrando na cruz da incerteza
Revivo as horas que me resta.
Plantei sonhos,
e amores
Reguei tristezas
Esperando um jardim de flores