O Grito
Um baque de porta
contra a casa seca e muda.
Nos degraus sem retorno
da calçada estéril,
o homem do grito
deforma-se no paletó fosco
como quem espera um susto,
esconde na boca o tabaco em tubo
qual as cinzas esquerdas pré-acesas
mergulham pelo vento intruso
das múltiplas ruas molhadas pela invalidez
No tempo que gira:
a órbita ocular
absorve o véu noturno
repleto de fusões nucleares
e o seu escuro, sempre em navalha,
sangra a hemorragia do bom senso e
estréia pegadas fracas
em direção aos bairros cotidianos
Noites boêmias
noites caducas
liberdade
ecoam gritos, vícios,
mocidade.
Órgãos em falência induzida
almas distribuídas aleatoriamente
pelas mesas dos bares em blues sinestésicos,
suas escalas graves improvisadas
harmonizam a teoria da noite aguda
e do grito, áspero, pagão
visceral
Na hora:
-não ao pensamento. Que a noite seja minha despedida!
(Pólvora em forma de barulho)
O homem do grito, gritou.
E nunca mais ouviu-se grito algum.