TER OU NÃO TER ORELHAS

“Às orelhas moucas do País”

O ter orelhas ou não ter

É desnecessária questão

Não há nada pra discorrer

Pois qu´ é esta a situação.

Não há Pedro para agredir

Nem um Malco para sofrer

De nada serve prevenir

O ter orelhas ou não ter.

Neste País só há lamentos,

Mil queixumes em convulsão,

E a denúncia aos quatro ventos

É desnecessária questão.

Tudo vai andando sobre rodas,

E todos temos qu´ entender

Qu´ estando cá as ideias todas

Não há nada pra discorrer.

Para quê o perder mais tempo

Sobre este Estado da Nação

Sairmos disso é contrassenso

Pois qu´ é esta a situação.

Guardem-se então as opiniões

Já que não há alternativa

E as predestinadas legiões

Andam loucas e à deriva.

- Na bainha coloca a espada,

O teu gesto é uma ideia tonta,

Ai, Simão, não enxergas nada:

Só uma orelha é pouca monta.

- É estapafúrdio o teu dilema

Deixa para lá o pobre Malco

Sem uma orelha é um problema

E ele, coitado, ouve tão pouco…

Emergências nada resolvem

Muito menos confinamentos

E se há uns alarmes que chovem

Ainda nos sobram os lamentos.

Fala bem quem tem que falar

Não temamos as pandemias

Deixar correr é qu´ está a dar

O resto são demagogias.

Ele há lugar pro frei Tomás

Co´ a sua distinta sabedoria

Fala bem, mas nem sempre faz,

Daí, arrelia atrás d´ arrelia.

Rasguemos as palavras ocas,

Tal não aquece nem arrefece,

Estas orelhas estão moucas

Ter ideias, já nem apetece…

Dom Quixotes é o que mais há

A sua guerra é sempre a mesma

E os moinhos, sem mó nem pá,

Levam a triste vida da lesma.

Uma coisa é certa, e bem certa,

Se a vida geral é tão amarga

É porque o cinto aperta, aperta

E o Zé é qu´ é burro de carga!

Frassino Machado

In ODIRONIAS

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 15/04/2014
Reeditado em 15/04/2021
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