A BOLSA E A VIDA
“No País do nunca”
Neste País ancestral
De vincadas tradições
O futuro é um lodaçal
Sem almas nem corações.
Em certo dia saudoso
Num ambiente surreal
Surgiu um Abril ditoso
Neste País ancestral.
Um projecto sonhador
Com ideais e comoções
Fez-se apelo criador
De vincadas tradições.
A semente foi lançada
Para um novo Portugal
Mas com terra desprezada
O futuro é um lodaçal.
Com tesouro abalroado
Por artistas sabidões
“País do nunca” adiado
Sem almas nem corações.
Tanta promessa vendida
Em pedestal de eleição
Tanta vela derretida
Numa cera de ilusão.
Vendilhões de mão estendida
Em beija-mão empenhados
Pegaram a bolsa e a vida
Com miséria anunciada.
“País do nunca” acordou
Por sentir-se espoliado
Mas a energia esgotou
Ao ver-se desamparado.
E a estranja, com ousadia,
Disse aos filhos da Nação:
“Se quereis democracia
Vinde cá pedir o pão”…
A bolsa já era estreita
Numa vida assim-assim
Agora, co´ esta desfeita,
Sai rasa e vem celamim.
A cada hora que passa
Em dura peregrinação
Aumenta mais a desgraça
Para mal desta Nação.
Ó Santo, ó milagreiro,
Que pareceis adormecido
Livrai Portugal inteiro
Deste rosto entristecido!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA