Recomeços
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Recomeços
O que sufoca não é o adeus de agora.
O que me refreia é você nunca ter vindo.
O que aflige não é a saudade que fica.
O que me amargura é a porta que se fecha.
O que não admito é a covardia desenfreada.
O que aceito, entretanto, é continuar...
Sei que o sufoco reprime sentimentos;
sei que a aflição nos atormenta e faz sangrar;
sei que admitir a perda é sinal de resignação.
Que importa sentir saudade de ilusões?
Existimos,
sim,
mas apenas em suposições.
Que importa o porvir num tempo colapsado?
Desistimos,
verdade,
sem nenhum choque corporal!
Que importa descobrir depois da morte?
Invadimos,
concordo,
a insanidade tresloucada do desejo.
Não imagino o que seríamos.
Não imagino como poderíamos...
Imagino,
sim,
que deixamos de ser, não por acaso.
Para tudo existia objeção, desde o começo.
E, desde o princípio, eu te amei.
Para tudo existia medo – amamos ao avesso.
E, apesar dos tropeços, eu te acertei.
Para tudo existia fim, sem recomeços...
Até que parti num dos teus arremessos.
(Nijair Araújo)
...
Viver é recomeçar, a cada segundo, como se a vida fosse permanente renascer.
Não espere o fim dos ciclos existenciais. Crie-os!
Bom dia!
🌹❤️🌹
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Iguatu-CE, 25 de março de 2014.
02h24min
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Pontos e curvas
Poesia também pode ser fruto da geometria.
Do trapézio no qual me apoio;
ou dando formato à cortina que nos protegerá.
Tem visual efeito de casinha aconchegante,
onde desejamos,
harmoniosamente,
apenas e tão somente coabitar.
Um corte, entretanto, pode ‘retangulizar’...
Ou ‘triangulizar’ o ângulo da visada, bem acima.
Eu me deitaria no plano que se forma e,
faceiro, sem muito jeito,
preencheria vazios,
maximizando volumes.
Ah, mas a cortina que se descortina.
Fez morada na tua tez pegajosa,
parceria que me desanima...
Entrelaçadas, tu e a seda branca do cetim,
tripudiam do meu amor azul,
atrapalhado, atabalhoado...
Que se materializa dentro de mim.
Vejo cortes pontuais e virgulares.
Vejo que há simetrias dignas de rotação.
E do retângulo que se avoluma,
formando cilindro,
escorrem gotas do suor da profusão.
A geometria permite a construção de curvas.
Curvas tuas, duo de curvas, curvas nuas...
Que,
esparramadas pelas ruas,
bendizendo qualquer predileção,
sintonizam pontos e vírgulas
que se esbanjam diante da exclamação.
Ah, que beleza existe na poesia!
Poesia que se fez, renitente,
por meio de figuras pontuais,
de primazia,
repleta de curvas e de retas,
descendentes da Geometria.
Nijair Araújo Pinto
Iguatu-CE, 25 de março de 2014.
17h24min
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Estátua e lágrimas
Sozinho,
quis conversar com tua estátua.
Debrucei-me sobre ti.
Indiferente, mantiveste o silêncio.
Afinal,
que importância teria o teu silenciar?
O mundo não me escuta;
as pessoas não me enxergam;
na minha casa não sou visto...
Senti minha mão sobre a tua mão.
O teu sentar, esboçando parcimônia,
serviu-me plenamente:
cabisbaixo, chorei.
Ninguém viu nem daria importância.
O xadrez da minha blusa carcomida,
entretanto,
pareceu desfigurar-se.
Entre o teu semblante, protegido por lentes,
meus braços e os teus braços,
havia esperança.
Retratada no livro, seguro entre teus dedos,
estava a nova história que surgiria,
dentro de mim, de mim para o mundo,
revelando que lágrimas, ao sangrarem,
criam enredos fantásticos quando lidas.
Nijair Araújo Pinto
Iguatu-CE, 25 de março de 2014.
21h08min
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Emociona-me a humanidade manifesta nas pessoas, quando se desprendem do ter e incorporam o entendimento de que está no ser a essência da felicidade. Buscamos elencar as melhores ‘coisas’ da vida, quando, na verdade, a melhor vida é a que temos dentro de nós, desnuda, sem máscaras, sem retalhos nem costuras das pechas sociais. A melhor vida é a que vemos refletida na felicidade do outro, usando como espelho apenas as lentes do amor. Ser feliz não por mim mesmo, mas como reflexo estampado na felicidade alheia, aproxima-nos da plena existência - é essa 'coisa' mágica que nos torna felizes e dignos de sermos filhos de Deus.