FLORES URBANAS
Na noite iluminada pela lua
Um saxofone canta às estrelas
E um violino rasga as esquinas.
A fumaça escapa de meu cigarro,
Baila lerda acima de minha cabeça
E espalha-se feita de silêncios azuis.
Um cão me espreita por um momento,
Fareja os sacos de lixo na calçada.
Já que nada encontra, esquece o lixo,
Esquece-se de mim e sai calmamente,
Desaparecendo nas sombras das marquises.
Lanço fora a guimba, depois da última tragada,
Caminho pelas ruas bêbadas de suores diurnos
E me aconchego na indolência da praça.
Espalho meu corpo magro, sujo e alheio
Sobre a grama pisada de urgências.
De pouco em pouco, o sono se derrama,
Pesando minhas pálpebras agitadas
E lobos urbanos cercam-me pela madrugada.
... Adormeço ouvindo a canção que ELA
(sempre ELA) cantava para mim,
Espezinhando meu medo de estar só.
O saxofone, o violino, a fumaça, as estrelas,
O cão, o medo, a praça se fazem etéreos
E eu amanheço mais uma vez
Para outro dia de pesadelos ensolarados.