FLORES URBANAS

Na noite iluminada pela lua

Um saxofone canta às estrelas

E um violino rasga as esquinas.

A fumaça escapa de meu cigarro,

Baila lerda acima de minha cabeça

E espalha-se feita de silêncios azuis.

Um cão me espreita por um momento,

Fareja os sacos de lixo na calçada.

Já que nada encontra, esquece o lixo,

Esquece-se de mim e sai calmamente,

Desaparecendo nas sombras das marquises.

Lanço fora a guimba, depois da última tragada,

Caminho pelas ruas bêbadas de suores diurnos

E me aconchego na indolência da praça.

Espalho meu corpo magro, sujo e alheio

Sobre a grama pisada de urgências.

De pouco em pouco, o sono se derrama,

Pesando minhas pálpebras agitadas

E lobos urbanos cercam-me pela madrugada.

... Adormeço ouvindo a canção que ELA

(sempre ELA) cantava para mim,

Espezinhando meu medo de estar só.

O saxofone, o violino, a fumaça, as estrelas,

O cão, o medo, a praça se fazem etéreos

E eu amanheço mais uma vez

Para outro dia de pesadelos ensolarados.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 03/03/2014
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