Esperança de verão
Há muito deixei de esperar, embora,
Invés de morrer, esperança recrudesça;
atos dolorosos a puseram porta a fora,
Mas, sempre solapa ditames da cabeça;
ressurge esgueirando-se, ao siso ignora,
Sem que qualquer fato novo aconteça;
Se causticante o verão sulino acalora,
Fujo para a sombra e, eis, a travessa!
Minuano vence um round, como agora,
Ela insinua o calor da evadida condessa;
Coteja a sorte do desesperado que chora,
Buscando o insumo pra que mais cresça;
Invade meu sono regando a sua flora,
sonho aviva o que convém que esqueça;
Desfaz as máculas e novo branco vigora,
Fazendo que a pureza de novo aconteça;
Seu lenitivo em nada a saúde melhora,
Floresta de enganos ainda mais espessa;
Não creio mais na lorota dessa senhora,
Que medica com placebos a dor de cabeça;
Diz que num dia, como hoje, de 25 horas,
Aumenta a chance que a amada apareça...